quarta-feira, 17 de março de 2010

140 Anos do Caixeiro Poeta

Lívio Barreto


Caixeiro Poeta



Lívio Barreto nasceu na fazenda dos Angicos, distrito de Ibuaçu, comarca de Granja, no dia 18 de fevereiro de 1870, há 140 anos, portanto, e faleceu, vítima de congestão cerebral,em Camocim, no dia 29 de setembro de 1895, com 25 anos, 7 meses e 11 dias.


As exigências de fortuna obrigaram-no a ir, muito criança ainda e muito a contragosto seu, servir como caixeiro de um parente (ofício embrutecedor que o perseguiria pela vida a fora), gastou ele aí a melhor parte de sua infância, incompreendido e anônimo. Mas, não podendo conter os ímpetos de sua alma em anseios de ideal superior, com José Barreto, Luís Felipe, Belfort e outros funda um jornal literário - O Iracema - onde aparecem seus primeiros versos, defeituosos ainda, mas já reveladores da inspiração e da originalidade daquele que mais tarde passaria a ser o principal representante do Simbolismo no Ceará, apesar da forte tendência romântica.


Sentindo o meio em que vivia intelectualmente atrasado para seus talentos, resolve seguir para Belém do Pará, em junho de 1888, onde trava conhecimento com o poeta João de Deus do Rêgo, que muito contribui para o seu aperfeiçoamento literário. Regressa dali, em 1891, doente e acabrunhado de esperanças. Por esse tempo aparece, na sua terra natal, um outro jornal literário - A Luz - em que Lívio publica sonetos e ligeiras crônicas humorísticas. Restabelecido no seio carinhoso da família, em fevereiro de 1892, ruma para a bela Fortaleza, onde se torna um dos fundadores (com o pseudônimo de Lucas Bizarro) da Padaria Espiritual - entidade literária que produzia o jornal - O Pão - tendo à frente o talentoso poeta Antônio Sales.


Intelectualmente satisfeito, mas afetado, fora do lar, por dificuldades financeiras, regressa ele como filho pródigo, acontecendo naufragar à altura da Periquara, em viagem no vapor Alcântara, salvando-se a nado, exímio nadador que era. Isto lhe rendeu um belo poema: “Náufrago”.


Segundo Artur Teófilo, “o Lívio era magro, pequeno, altivamente petulante.Tinha o olhar penetrante, sem vacilações, a fronte alta e abaulada e uma palidez baça de hepático. Ria pouco e só entre amigos deixava por vezes transparecer sua fina verve elegante, um bocado pessimista e epigramática. Com o vulgo era sisudo, um tanto frio mesmo, com uns longes de bem entendido orgulho. Usava casimiras claras, chapéu de feltro alto, e fumava cachimbo, à noite, embalando-se rapidamente na rede, com um livro de versos nas mãos.”


A morte prematura


Lívio Barreto, autor de um único livro - DOLENTES - publicado postumamente por Waldemiro Cavalcanti, faleceu na sua banca de trabalho, em Camocim, fulminado por uma congestão cerebral, pelas 3 horas da tarde do dia 29 de setembro de 1895. Ainda quase um garoto, com 25 anos, que lhe foram concedidos, tempo insuficiente para aprimorar sua técnica, tornou-se o maior poeta granjense de todos os tempos, e um dos principais do Ceará, ao lado de Padre Osvaldo Chaves, que certa vez o perifraseou de “o Casimiro de Abreu da Granja”. Lívio Barreto é patrono da cadeira nº 24 da Academia Cearense de Letras.


Foram seus pais José Soares Barreto e Mariana da Rocha Barreto. Lívio foi morar na sede Granja, onde chegou em 1878 e aí aprendeu, com o professor Francisco Garcez dos Santos, as primeiras letras.



Lágrimas


Lágrimas tristes, lágrimas doridas,


Podeis rolar desconsoladamente!


Vindes da ruína dolorosa e ardente


Das minhas torres de luar vestidas!


Órfãs trementes, órfãs desvalidas,


Não tenho um seio carinhoso e quente,


Frouxel de ninho, cálix recendente,


Onde abrigar-vos, pérolas sentidas.


Vindes da noite, vindes da amargura,


Desabrochastes sobre a dura frágua


Do coração ao sol da desventura!


Vindes de um seio, vindes de uma mágoa


E não achastes uma urna pura


Para abrigar-vos, frias gotas d’água!



postado por FAGNER CRUZ


FONTE: Blogue Coisas da Minha Terra (http://granjaminhaterra.blogspot.com/)

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